Cristiane Martins uma busca constante pela valorização do português
05 fev 2019
Residente nos Estados Unidos há 23 anos e professora do sistema público de escolas em Miami-Dade há 14, Cristiane Martins sempre foi uma apaixonada por Educação. Formada em universidades americanas, bacharel em Educação Especial, mestrado em Deficiência Visual e especialização em Orientação e Mobilidade, Cristiane trabalha atualmente com crianças cegas e com deficiências visuais e declara: “Ensinar o braille é uma das tarefas da profissão, ensinamos também tecnologia para transformar essas crianças em adultos independentes, básicas habilidades de como fazer um sanduiche e as mais complexas de como atravessar uma rua usando apenas o sentido da audição. É uma profissão muito gratificante!”.
A partir do amor desenvolvido pela sua profissão e percebendo que seus filhos estavam perdendo o português, Cristiane transportou essa paixão à sua própria cultura. “Meus filhos vieram muito pequenos para cá, com 1 e 3 anos, e logo começaram a misturar a língua (português e inglês) notamos o mesmo acontecendo com outras famílias. Eu e meu marido, André Martins, tivemos a ideia de fundar a instituição e convidamos alguns amigos para participarem”.
Assim, em 2004, foi criada a fundação Vamos Falar Português. No início era apenas um grupo de brasileiros fazendo alguns eventos de contação de histórias em bibliotecas, só dois anos depois foi iniciado o programa gratuito de aulas de português. Desde então, mais de uma década se passou e a instituição vem se consolidando como uma fonte de conhecimento sobre a cultura brasileira e como uma referência de sucesso na divulgação do Brasil no exterior, conquistando até os americanos. Atualmente a diretoria da VFP é formada por 11 líderes da comunidade brasileira no sul da Flórida.
Cristiane conta que notou ao longo dos 14 anos da fundação que há vários motivos pelo qual as famílias não incentivam o português e o maior deles é que os pais querem ver seus filhos adaptados ao país e pensam que falando outra língua, eles podem sofrer preconceito e até que não terão a capacidade de falar duas lingues com fluência. “Nós, pais, estamos dando uma grande oportunidade à nossas crianças de serem bilingues, não vamos tirar delas essa chance e principalmente a língua de conexão com a família que está no Brasil e nossas raízes”.
Movida pela preocupação de fortalecer a cultura brasileira fora do Brasil, ensinando e/ou mantendo o idioma português, juntamente com uma das co-fundadora da VFP e também professora de português Beatriz Cariello, foi criado o programa de aulas de português. O processo de criação das aulas de cultura brasileira e língua portuguesa é bem aprofundado. A Diretora de currículo, Beatriz Cariello, e de Educação Infantil, Patricia Duarte, se reúnem para programar o currículo do ano letivo que ao final é enviado para aprovação de Cristiane. Por semestre são oferecidas 15 aulas com uma hora de duração cada.
Para garantir o sucesso do programa de aulas de português, a VFP conta com o trabalho de muitos voluntários, entre eles: diretora geral do programa e apoio às crianças especiais, ocupado por Cristiane, Beatriz (diretora de currículo), Patricia (diretora de Educação Infantil), cinco coordenadoras de núcleos e outros membros que ajudam nas salas de aula em geral. Além dessa equipe, hoje há 12 profissionais remunerados que trabalham no programa de aulas de português.
Ela também exemplificou o método de trabalho com uma experiência tida em 2018, quando trabalhou as cinco regiões do Brasil. “Foram escolhidos pontos que desejamos abordar e as aulas foram desenvolvidas a partir dos pontos selecionados”. De acordo com a fundadora, a ideia não é transformar a criança em uma especialista da Região Nordeste, por exemplo, mas colocar a “gotinha” da curiosidade sobre o Brasil na cabeça delas, o que tem funcionado há 12 anos. “As crianças vão para casa curiosas sobre a nossa cultura, perguntam aos pais mais informações sobre o bumba-meu-boi ou como foi criada Brasília e isso tudo é muito recompensador”.
Mas, mesmo com todo o reconhecimento que o projeto tem perante toda a comunidade brasileira e americana, o VFP ainda sofre com um problema muito comum às ONGs, conseguir verba para que o programa siga e quem sabe, um dia, consiga atingir todas as crianças na fila de espera e abrir outros locais. No outro lado da balança, o VFP tem avançado no número de famílias que desejam participar do programa. “Começamos com cerca de 15 crianças e agora temos cerca de 500 no programa em cinco pontos na Flórida (Miami, Fort Lauderdale, Pompano Beach, Delray Beach e Orlando), e mais de 300 na fila de espera. E isso não é só porque o programa é gratuito, a comunidade já conhece nosso trabalho e sabe que tem muita seriedade por trás de toda essa brincadeira com as crianças”.
Para manter toda a estrutura, a Vamos Falar Português conta com o apoio de empresas que patrocinam o programa e dos pais que doam material quando necessário, mas não é o suficiente para atender toda a demanda que a instituição tem, por isso a instituição está aberta a receber doações monetárias que podem ser abatidas no Imposto de Renda, uma vez que a VFP é uma entidade registrada na Flórida (501c3).