Brasileiro é referência para a comunidade brasileira em Weston
23 fev 2018
Muitos brasileiros têm escolhido Weston para estruturar negócios e criar/ manter a família de forma sustentável. Um deles é Maurício Sobral, conhecido como o “prefeito” da comunidade brasileira na cidade por conta das inúmeras reuniões que faz em sua casa e na rua, bem como pela facilidade de se comunicar com os compatriotas.
Recentemente, Sobral abriu um dos negócios mais promissores da região junto com a sócia Fernanda Zalfa, a RememBR, loja de produtos brasileiros que já virou o point do pessoal. Mas seu primeiro negócio estabelecido em solo americano foi uma empresa de ‘transfer’, a Friendly Mau, que hoje funciona em sistema de rede com outros motoristas. Em seguida, lançou a Brazil At Your Door, um serviço de entrega idealizado com Fernanda e o marido Guilherme, cansados de ter que se deslocar a outras cidades em busca dos produtos de “necessidade básicas” para suas próprias famílias. A empresa começou por celular e WhatsApp, atendendo vizinhos e amigos, e foi crescendo, virou e-commerce e deu origem à loja física, que hoje atrai visitantes de Coral Gables e Miami Beach.
O empreendedor conversou com a South Florida e compartilhou conosco um pouco de sua história.
South Florida: Qual foi o seu primeiro negócio em solo americano? Como foi começar a trabalhar nos Estados Unidos e a evolução até chegar aos dias de hoje?
Mauricio Sobral: Foi justamente a empresa de transporte, mas, antes disso quase abri uma loja de biquínis, um catering de pizza e mais uma série de outras coisas que pareciam boas ideias, nos brainstormings com os amigos. A maior alegria foi quando recebi minha autorização de trabalho e pude aplicar para o Uber. Ralei bastante em madrugas e eventos, levando a turma de Weston a Miami e vice-versa. Outra alegria foi criar a Brazil At Your Door. Começamos a pensar nisso de onda. O Guilherme Arruda, meu sócio, e executivo do mercado financeiro, a mulher dele, Fernanda Zalfa, designer que trabalhava remotamente para a Globo fazendo cenários em 3D, e minha esposa (nos fins de semana). A alegria de levar aos nossos conterrâneos aqueles produtos que só tínhamos acesso quando íamos ao Brasil era impagável.
SF: Por que escolheu Weston para construir a vida nos Estados Unidos? Já conhecia a cidade antes?
MS: Basicamente pelas escolas e por acreditar que aqui poderíamos morar em uma casa com piscina – para receber familiares e amigos -, com melhor relação custo/benefício, quando comparado à região onde minha esposa trabalhava na ocasião (Aventura) e para onde a empresa iria no ano seguinte, na região da Brickell.
SF: Quando chegou em Weston, a cidade ainda era dominada por venezuelanos ou os brasileiros já haviam descoberto esse refúgio?
MS: Sim, acredito ter chegado no ano da transformação de Weston. Em 2014, muitas famílias chegaram à cidade. Se não me engano, só no mês em que chegamos mais de 50 famílias se mudaram para cá de forma definitiva.
SF: Por que os brasileiros têm escolhido Weston? O que esta cidade tem que a diferencia das demais?
MS: Dez entre dez brasileiros vão responder a mesma coisa: escolas públicas de qualidade e bem pontuadas pelo GreatSchools. Porém, acredito ser mais que isso, grande parte de nós vem de cidades grandes como, por exemplo, Rio, São Paulo e Recife, com toda a violência e o caos de cidades que cresceram desordenadamente e que tem alto custo de moradia por metro quadrado. Aí você chega em Weston, um local espaçoso, tranquilo, planejado. E se encanta.
Aqui, nossos filhos têm oportunidade de ir sozinhos para as escolas, de bike dependendo de onde você vive. Isso para nós, pais, é ótimo. Outro ponto é que, em geral, quem vem para cá com família está no mesmo projeto: família, trabalho e bem-estar. Isso acaba aproximando as pessoas, que se colocam sempre à disposição para ajudar um recém-chegado, com dicas desde médicos, produtos de limpeza até a abordagem com os professores. O resultado, é muita confraternização com amigos (novos ou recém-feitos), em diversas casas. Além da boa comilança, nesses momentos, trocamos experiências, compartilhamos angústias, preocupações e, claro, vitórias.
SF: Como foi o processo de saída do Brasil e estabilização nos Estados Unidos? Quais as maiores dificuldades enfrentadas?
MS: No meu caso, minha esposa veio transferida e eu sabia que, passada a adaptação inicial da família (temos dois filhos, na ocasião com 11 e 18 anos), eu precisaria me reinventar. Trabalho desde os 16 anos, e no Brasil era diretor de operações de uma das maiores agências de design e branding do país. Sabia que ficar em casa para mim não seria uma opção.
Não falava nada de inglês (hoje, falo um nada melhorado… risos) e para mim, sem dúvida, a maior dificuldade é a barreira do idioma para quem não fala e, obviamente, a distância da família e amigos, e de compartilhar com eles a boa mesa. Amo comer, alguns dizem que mastigo o dia inteiro (risos), portanto, a saudade da nossa comida sempre foi muito presente. Acho que isso me fez buscar uma solução para matar pelo menos essa saudade, sem ter que dirigir mais de 40 minutos para isso.
SF: Você é conhecido na comunidade local, muitos até o chamam de “prefeito” local. A que se deve isso?
MS: Pois é… Essa história de prefeito de Weston é engraçada mesmo. Acho que minha personalidade comunicativa resultou nisso. Logo que cheguei, estudava três horas por dia de inglês, o que para mim era exaustivo. E em inglês a conversa para mim (ainda) não flui. No início então… Pois bem, quando não estava estudando, cozinhando ou limpando a casa (risos), onde quer que eu estivesse – como minha esposa brinca, na fila do supermercado, na operadora de telefonia ou na rua mesmo – bastava ouvir alguém falando português, que eu ia lá e me apresentava, perguntava há quanto tempo moravam aqui etc. E sempre me colocava à disposição, pois sei como é difícil chegar em um lugar e não conhecer absolutamente nada de como funciona. Além disso, para não ficar só estudando, comecei a fazer transfer, levando e pegando famílias nos aeroportos. Muitos dos moradores de Weston chegaram aqui de mudança definitiva, recebidos no aeroporto por mim. Isso criou um laço emocional forte. Sem falar nas festas. Isso é outro capítulo.
SF: Acredita que o fato de conhecer bem a comunidade tenha contribuído para esse reconhecimento? Como encara isso?
MS: Sem dúvida. Minha casa sempre esteve aberta para receber amigos e aquecer os corações dos recém-chegados. Apenas na minha rua há umas dez famílias brasileiras e, aos poucos, fomos integrando e sendo integrados. Viramos uma grande comunidade.
Como mencionei, o fato de ter feito várias festas também foi um fator integrador. Fosse em comemoração ao aniversário do meu filho ou um churrasco para apresentar novos amigos. Depois com um dos meus melhores amigos – Rogerio Garduzi, que está criando um negócio de empanadas bem legal aqui também, chamado Deli Cucina – resolvemos comprar um forno de pizza à lenha, com a ideia de quem sabe fazer um negócio.
Para testar a massa, fazíamos pizzadas, onde a galera ajudava a rachar o custo. Começamos com umas 50 pessoas. A última que fizemos tinha 150 (risos). Da mesma forma, no último réveillon, por exemplo, junto com vizinhos e amigos, fizemos uma festa comunitária que reuniu quase 200 pessoas. Dos eventos e festas em casa (e na rua) fui criando grupos de WhatsApp reunindo diversas tribos. Vi muita amizade, negócios e sociedades começarem aqui, e tenho muito orgulho disso.
SF: Poderia descrever o funcionamento de cada negócio que toca? Qual público atinge e que serviço oferece?
MS:A Friendly Mau Transfer, empresa de transporte que funciona como se fosse uma rede, com motoristas e amigos recém-chegados e com permissão de trabalho para conseguir atender toda demanda. A Brazil At Your Door (BAYD) é um serviço de entrega de produtos (alimentos) brasileiros nas casas das pessoas. Começou bem pequeno, por telefone e WhatsApp, atendendo vizinhos e amigos e foi crescendo. Montamos o site de e-commerce que permite ao cliente ver os produtos, fazer o pedido e, se quiser, o pagamento. Hoje, atendemos aos três condados da grande Miami e temos mais de 500 famílias cadastradas e estamos entrando, também, no mercado corporativo, levando guaraná, pão de queijo, doces e biscoitos, por exemplo, para algumas empresas de brasileiros ou com clientes brasileiros.
E, finalmente, a menina dos olhos, a RememBR, mistura de mercado e empório de produtos brasileiros que tem a pretensão de oferecer uma experiência, de fazer o cliente se sentir “de” casa e poder desfrutar da culinária afetiva e matar a saudade das coisas boas do Brasil. Temos, ainda, a ambição de ser um ponto de integração da população brasileira local, um ponto de encontro para troca de ideias, experiências, networking e de oportunidades para os brasileiros.
SF: A RememBR já é um sucesso local. Qual seu diferencial competitivo?
MS: Além dos produtos, acho que é o calor humano. A possibilidade de ir, sem pressa e sem ser expulso da mesa, sem cara feia se não está a fim de dar tips, por exemplo. A certeza de que, mesmo se você for sozinho, você provavelmente vai encontrar um amigo ou conhecido e vai poder bater um bom papo num ambiente agradável e descontraído.
SF: Quais os produtos mais pedidos pelos americanos na RememBR?
Nossos carros chefes acabam sendo a preferência dos americanos e latinos também: coxinha, pão de queijo, sanduiche de linguiça e o bowl de açaí. Os eventos que fazemos com parceiros brasileiros, seja com o Marcelo do Pastel de Feira, o Acarajé do Carlinhos, ou a feijoada da Deborah Rosalem, para citar alguns, também caíram no gosto de todos, sejam brasileiros ou não.
SF: Você e sua esposa tocam os negócios juntos? Como é separar a relação de trabalho com a doméstica?
MS: Na verdade, quem toca a Brazil at Your Door e a RememBR somos a Fernanda e eu. O Guilherme e a Paula são nossos conselheiros, nos ajudam na parte de planejamento e brainstorming de ideias e estratégias, além de trabalharem alguns finais-de-semana (rs).
SF: Quais os planos para este ano?
MS: Consolidar a operação da RememBR e, quem sabe, abrir um segundo ponto. Temos um infinito de coisas a aprender e melhorar. Temos pouco mais de três meses de operação e ainda temos que entender coisas importantes como sazonalidade, elasticidade de preço, etc. Mas estamos muito felizes com os resultados colhidos até aqui, com a receptividade do público e com os pedidos para abrirmos em outras regiões. Também queremos expandir o alcance da BAYD a outros estados. Essa é uma meta mais ambiciosa, mas que estamos começando a explorar.
SF: Ao olhar para o passado, qual o melhor momento, o que foi decisivo na escolha por outro país?
MS: Sempre tivemos o desejo, mas em outras oportunidades que minha esposa teve nesse sentido, tínhamos situações familiares que não nos permitiam pensar nisso. O momento ideal foi quando ela recebeu o convite de vir, pois sua função estava migrando de São Paulo para Miami.