A arte no dia a dia
07 jul 2018
Saiu em Abril 2018 a temporada 4 de Chef’s Table, a premiada série de documentários da Netflix, que mostra a intimidade de alguns dos melhores chefs do mundo em seus estabelecimentos de alta cozinha. Quem assiste, testemunha a excelência nessa profissão tão árdua – e hoje tão badalada.
Filmada em high definition, a série criada pelo americano David Gelb, diretor do aclamado Jiro Dreams of Sushi (2011), tem por trilha sonora a eufórica Winter, The Four Seasons (Concerto No. 4), de Antonio Vivaldi. Em Chef’s Table, os chefs tem nenhuma, uma, duas ou três estrelas do cultuado Guia Michelin, a bíblia dos roteiros gastronômicos, criado em 1900 por André Michelin, o fundador da marca fabricante de pneus. Em Chef’s Table, tem chefs do Brasil, França, Itália, EUA, Espanha, Argentina, Suécia e mais. Tem carne, frango, peixe, frutos do mar, vegetais, grãos, sobremesas etc. Tem fotografia impecável. Tem verdade e emoção. Tem sucesso. Tem tudo para deixar você intrigado, perplexo e com fome. Até porque são os melhores restaurantes do planeta. Porém, tidos como comida besta por muitos, também podem te deixar com fome consideradas suas pequenas porções e preços exorbitantes. Fine dining é (infelizmente) coisa para poucos: como em toda atividade humana, a cozinha no estado da arte acaba por tornar-se exclusiva. Agora, se você considerar que comemos com os olhos, há salvação.
David Gelb, na direção de uma ótima trupe de cineastas convidados para filmar os 26 episódios lançados desde 2015, quebra o gelo com os chefs e te coloca cara a cara com 26 feras e suas facas afiadas. Chef’s Table democratiza o acesso ao conteúdo da arte culinária criada nas melhores cozinhas da atualidade. As temporadas 1, 2 e 3, incluindo a spin-off Chef’s France (produto derivado da série original), são dedicadas a chefs. A season 4 já é diferente: somente confeiteiros, os pastry chefs. Mas qualquer diferença para por aí: são igualmente fantásticas tanto a qualidade técnica quanto a excelência visual das imagens de todos os retratados. Assim, Chef’s Table, que ao mesmo tempo nos aproxima da figura mítica do cozinheiro renomado, acaba por reforçar a imagem heróica, quase lendária, dos grandes chefs e suas receitas constelares. Em bom português, é bom pra caramba.
Pena que por mais high definition que sejam a produção da Netflix e a sua TV, você não vai poder de fato degustar os colossais grelhados do Francis Mallmann, no Patagonia Sur (Buenos Aires), a inventiva tapioca do Alex Atalla, no DOM (São Paulo), ou os bolos sem frosting da Christina Tosi, na loja Milk Bar (Nova Iorque). Você não vai conseguir se deleitar de verdade com os balões comestíveis do Grant Achatz, no Alinea (Chicago), com as carnes de caça do Magnus Nilsson, no Fäviken (Järpen, na Suécia), ou as sobremesas moleculares de Jordi Roca, no El Celler de Can Roca (Girona, Espanha). Para isso, só indo lá.
Enquanto não vai, aproveite que a nossa cidade, a bela Orlando, tem excelentes restaurantes, com menus de todos os tipos e preços para todos os bolsos.
Cheers!
Carlos Eduardo Faria Costa