A arte de Ernst Fischer
05 fev 2019
O livro “A necessidade da Arte”, editado em 1959, onde o autor Ernst Fisher (1899-1972) revela-se um poeta, um esteta e um grande crítico. Ele foi um jornalista, escritor e político austríaco, que concebeu a arte como “substituto da vida” e enfatiza que “a arte é necessária para que o homem se torne capaz de conhecer e mudar o mundo”, mas principalmente, que a arte continuará sendo sempre necessária.
Os assuntos foram subdivididos em cinco capítulos, os quais apresentam um incrível painel das artes desde os tempos mais primitivos. Segundo Fischer, a função da arte não está apenas no fato de levar o homem a conhecer e mudar o mundo, mas também por seu caráter mágico pela magia que lhe é inerente.
Desprovida desse resíduo de magia que provém de sua natureza original, a arte deixa de ser arte, e por ser tão antiga quanto o homem, este, por princípio, tornou-se um mago. Foi utilizando ferramentas que o homem se fez homem, produziu-se a si mesmo.
Simultaneamente, o homem e a ferramenta passaram a existir, indissoluvelmente ligados um ao outro.
O homem possui razão e mãos, e foram suas mãos que libertaram a razão humana e produziram consciência própria no homem.
A eficiência é muito mais antiga do que o propósito. A mão é uma descobridora há mais tempo do que o cérebro, basta observar uma criança desfazendo um nó; ela não pensa, limita-se a experimentar. Só paulatinamente, a partir da experiência das mãos é que vem a compreensão de como se fez o nó e do melhor modo de desfazê-lo.
O homem primitivo ainda não distinguia claramente entre a sua atividade e o objeto ao qual ela se relacionava; as duas coisas formavam uma unidade indeterminada. Embora a palavra se tivesse tornado signo (não mais uma simples imitação ou expressão), uma pluralidade de conceitos cabia dentro de cada signo. Só gradualmente veio a ser atingida a pura abstração.
Em todo poeta existe certa nostalgia de uma linguagem mágica, original. A arte, em todas as suas formas, era uma atividade comum a todos e elevando todos os homens acima do mundo animal. Mesmo muito tempo depois da quebra da comunidade primitiva e da sua substituição por uma sociedade dividida em classes, a arte não perdeu seu caráter coletivo.
Somente a verdadeira e autêntica arte consegue recriar a unidade entre o singular e o universal. Somente a arte consegue elevar o homem de um estado fragmentado a um estado de ser íntegro, total. A arte é uma realidade social. A sociedade precisa do artista, uma vez que ela capacita o homem a compreender a realidade, e mais ainda, a suportá-la e, ainda melhor, a transformá-la, tornando-a mais humana e hospitaleira para a humanidade.
A visão de arte socialista leva vantagem sobre a arte burguesa. A despeito de todos os conflitos internos que vem sofrendo, o socialismo mantém inabalada a confiança nas ilimitadas possibilidades que se abrem para o homem. A arte socialista acena com a possibilidade de um mundo mais racional, mais humano.
As lutas políticas entre os dois sistemas continuarão, mas é uma condição para a sobrevivência de todos nós a de que se realizem sob a vigência da paz mundial. Para isso, é preciso que os homens de ambos os lados não falem no vazio, que cada um entenda os problemas do outro, seus ideais, seus anseios. Esta é precisamente um das maiores funções da literatura e da arte contemporânea.
Finalmente, o homem que se tornou homem pelo trabalho, que superou os limites da animalidade transformando o natural em artificial, o homem que se tornou um mágico, o criador da realidade social, será sempre o mágico supremo.
Tendo como exemplo, dois mitos da Mitologia Grega: Prometeu, sempre habilidoso nas artes, trazendo o fogo do céu para a terra, e Orfeu, músico tocador de lira, enfeitiçando a natureza com sua música.
Enquanto a própria humanidade não morrer, a arte não morrerá.
Clara Piquet