Tem um tempinho pro café?
07 jul 2018
Salve, salve mulherada bonita da terra do Mickey, como vamos de férias escolares?
Aqui em casa o caos se instalou e disse que só vai embora em Agosto 13.
Minha Mãe veio nos visitar também, então as crianças estão aproveitando e fazendo o que querem. Ok, ela é avó, e vó é pra isso. Mimar e desfazer em um mês o que a gente leva o ano inteiro pra ensinar.
Mas mudando radicalmente de assunto, me aconteceu uma coisa que mudou minha vida.
Eu não sei se vocês sabem mas eu pertenço uma igreja desde que nasci, meus avós frequentavam, meus pais cresceram na mesma doutrina e eu, como boa ovelha negra, voltei a frequentar quando me mudei pra cá e foi lá que conheci uma senhora chamada Alda.
Uma mulher muito elegante e de sorriso encantador. Sempre muito educada e com palavras que aquecem o coração, ela veio me visitar quando tive minha primeira filha. Trouxe para Rebecca uma jardineira rosa que fazia conjunto com um chapeuzinho. Durante o café ela me disse que veio para Orlando ajudar a criar a bisneta.
Depois disso, toda vez que eu a encontrava, combinávamos um cafezinho. “Essa semana eu ligo para a senhora e marcamos.”, eu dizia. E assim passaram-se os anos e o café ficou esquecido.
Ela foi pro Brasil e voltou anos depois para Orlando.
A encontrei mais duas vezes depois disso e continuamos os planos de tomar um café juntas.
Não deu tempo. No dia 2 de junho, sábado à noite, uma moça da igreja me ligou avisando que a Alda estava muito doente e que queria me ver. Chorei muito, mas muito mesmo porque eu sabia que não haveria mais tempo pra um bom bate papo regado a café brasileiro e boas lembranças.
No domingo cedo liguei para a filha dela e pedi para fazer uma visita rápida, a filha me disse que a mãe já estava dando os últimos suspiros.
Pedi para ir de qualquer jeito e corri lá, uma milha da minha casa, uma milha meu Deus, tão pertinho né. Quando cheguei ela já estava partindo. Me ajoelhei e pedi perdão pelos cafés não tomados, pela vida corrida, pelas histórias não contadas, pelas gargalhadas não dadas.
Pedi perdão pela vida corrida e pela falta de tempo. Tempo esse que não volta mais. Tempo perdido com problemas que nunca aconteceram, tempo desperdiçado com redes sociais, tempo que gastamos preocupados em provar aos outros que somos especiais para pessoas que mal sabem o nosso nome.
Ela segurando a minha mão, deu seu último suspiro e morreu.
Foi perfumada para o céu e foi em paz com honras que uma serva de Deus merece.
Quanto a mim, olhando pra ela ali, sem vida, percebi a linha tênue que separa a vida da morte.
Um segundo encerrou uma história. Quantos cafés marquei e nunca tomei. Quantas vezes combinei a Branca, Andrea, Larissa, Marcia, Vivi, Tati, Clo, Anye, Dany, Renata, marcando um café que nunca aconteceu? Culpa minha, culpa nossa.
Temos que arrumar tempo para os bons amigos.
Sim temos. O tempo, senhor da razão, decide o nosso fim, mas o meio quem define somos nós, donas e senhora dele.
O famoso café vai sair nem que seja na marra.
Porque aquela gargalhada precisa ser dada, aquela história precisa ser contada, aquele abraço apertado precisa acalmar um coração.
Dedico esse texto a Alda, uma senhora de cabelos brancos e sorriso encantador. E a Erika, minha comadre, que se vira e sempre vem tomar um café comigo.
Amo vocês.
Até mês que vem.