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Briga entre Irmãos

Briga entre Irmãos
11 ago 2018

CAPA BRAZILUSA SUNCOAST 45– Manhêêêê!!! O Filipe me bateu!
– Não, bati não, mãe. É a Duda que está inventando história!

Quem nunca ouviu ou vivenciou um diálogo parecido, não é mesmo? Pessoalmente, creio que posso me considerar muito privilegiada, pois apesar da diferença de idade relativamente grande, ou talvez até por isso mesmo, meus filhos sempre foram muito amigos. Contudo, mesmo tendo tomado precauções para preparar meu filho para a chegada do novo bebê, não foi a novidade do relacionamento, ou ainda o sentimento de perda que em algum ponto chegou a ocasionar estas pequenas rusgas entre irmãos. Mas afinal de contas por que irmãos brigam? O que fazer e o que não fazer nestas horas? Como criar um ambiente harmonioso onde cada filho se sinta valorizado como indivíduo? Não é mais fácil simplesmente não ter outro filho?
Em primeiro lugar, precisamos reconhecer que desavenças são parte de qualquer relacionamento, e como tal, são típicos na vida de qualquer família. Na minha opinião pessoal, creio que os pequenos conflitos familiares são um laboratório onde os filhos aprendem ou deveriam aprender a resolver seus conflitos, preparando-os para os conflitos da vida adulta. Nossos filhos aprendem muito com aquilo que ensinamos, e é muito importante abordar questões que possam formar habilidades para uma vida adulta equilibrada.
Contudo, mais que falar e aconselhar, pais e mães precisam viver. “Faz o que eu mando, não faz o que eu faço” é a pior escola de pensamento que pode existir, pois nossos filhos aprendem mais por observação do que por ouvirem conselhos. Dentro de casa, é importante ver que pais e mães, dialoguem de forma pacifica e produtiva ao invés de permitir que os ânimos se alterem. E não somente entre si, mas ao telefone, com o vizinho, com parentes.
É igualmente importante que os pais não se tornem árbitros nos conflitos. É uma armadilha sem volta. Por mais justo e equitativo que pais imaginem ser, um filho sempre acha que o outro é o preferido e portanto está levando vantagens, que não lhe são concedidas. Alguma das poucas vezes em que meus filhos começaram a brigar, eu chegava até eles e perguntava o que estava acontecendo. As reclamações e acusações voavam livremente, até que eu dizia. “Bem, eu não sei quem começou, mas eu sei quem pode terminar” significando que eles não conseguissem resolver o conflito, eu poria fim ao mesmo, mas isto implicaria perda (disciplina) para ambas partes. A maioria das vezes funcionava, especialmente se o argumento fosse algo como a TV. Uma vez, levei o cabo da internet (antes do wi-fi) e a briga por canais terminou.
É importante não ignorar a rusgas de irmãos. Em primeiro lugar, precisamos dar atenção à estas brigas, porque talvez seja exatamente isso as crianças que estejam buscando: atenção. Neste caso, é nossa responsabilidade analisar os porquês. Pode ser mais do que o compartilhamento de brinquedos, ou espaço, ou comida. Segundo, porque, acreditem ou não, crianças podem ser manipulativas e não se deve descartar a possibilidade de que a briga seja uma forma de controlar os pais por atenção. Por isso, não se deixe controlar pelas brigas dos pequenos. Mas use bom senso. Demonstre que você não tem interesse pessoal no conflito e que o comportamento deles tem consequências que ambos devem suportar. Fique alerta também quanto aos fundos emocionais, como por exemplo baixa autoestima, mesmo quando é profundamente amada pelos pais. É quando a criança tem o que eu chamo jocosamente de síndrome de Rita Lee. Lembram-se da letra? “Você é a ovelha negra da família. Agora é a hora de você assumir e sumir!” Pois é. Quando a criança se sente desvalorizada em relação a outra (e aí não precisam ser irmãos), a diferenciação, ainda que imaginaria, pode ser a origem do conflito. E neste caso, a resposta pode ser medo de ficar de fora. A briga traz a inclusão. Ou, atrapalha a vida do “filho perfeito”.
Por isso, é importante que jamais se comparem os filhos. O dito popular é tão antigo quanto verdadeiro: “Filhos são como os nossos dedos. Não há um que seja igual ao outro”. Portanto, “olha como seu irmão é bonzinho” é definitivamente um tiro que sairá pela culatra. Procure celebrar as diferenças entre seus filhos. Busque criar algo especial que conecte seu filho com você, e que seja algo especial e somente seu. Fazer biscoitinhos, bater um bolo, uma corrida, um jogo, um livro, um desenho animado… seja o que for, leve a sério. Marque no calendário um “date” como seu filho ou filha, onde possa haver a valorização individual, para que eles aprendam qual o seu papel e contribuição na família. Laboratório, lembram?
Contudo, em algumas raras vezes, a origem do conflito pode estar num transtorno. Observe com responsabilidade e atenção para descobrir no comportamento infantil se há algo fora do normal. Não ignore a violência, por mais sutil que seja. Ter um terapeuta infantil é tão normal e necessário como ter um pediatra. Mesmo que seja para lhe dizer que está tudo bem, e que sua filha está apenas insegura por causa da nova escola, ou que seu filho esteja apenas tentando lhe avisar que sente “abandonado”. Transtornos emocionais são reais e nunca devem ser ignorados. Terapia nem sempre inclui medicação, mas em chegando a este ponto, procure confirmação de mais de um profissional. Seja antes de administrar um Melhoral infantil, uma insulina, ou um ansiolítico, buscar segundas (terceiras e quartas) opiniões de profissionais sérios e confiáveis é uma prática muito saudável antes de iniciar qualquer terapia.
Não há nada melhor, e mais recompensador do que criar filhos. Criar, vem do latim [creare] “inventar, produzir do nada”. Criar filhos é uma arte que desenvolvemos segundo o produto daquilo que somos. Dá trabalho criar filhos pois são como obras de arte e dependem de nós para se tornarem obras primas. Vamos inventar alguém bom e saudável.

Edléia Santiago

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